Quando não tinha GPS no carro, ia sempre salvaguardado com um mapa. O mapa ficava guardado no porta-luvas. Embora eu costumasse preparar a viagem, vendo mais ou menos as localidades por que íamos passar, a verdade é que era com alguma frequência que pedia para ela sacar do mapa e ajudar-me com indicações.
É certo e sabido que homem que é homem não está cá para parar o carro e pedir indicações a quem passa. Nada disso. Homem que é homem nunca está perdido. Isso é uma derrota para nós, e nós não admitimos derrotas à primeira fragilidade.
Mas então ia eu dizendo que lhe pedia indicações. Ela inspirava muito fundo, expirava, abria o mapa, e qual burro a olhar para um palácio, perguntava:
- Onde é que estamos?
- Estamos em Cantanhede.
- Ora Cantanhede... (pausa longa enquanto desdobrava o mapa) ... Ora Cantanhede... (pausa longa enquanto virava o mapa ao contrário) ... Não estou a ver.
Ela nem conseguia localizar Coimbra, quanto mais Cantanhede! Eu, tentando ter atenção à estrada, mas olhando de relance para o mapa dizia-lhe:
- Isso é o Alentejo, pá! Estás a dormir?
- Que é que foi? Não estava ver! O que é queres?
E acabava em discussão. Eu fulo por ela não me dar indicações. Ela a insistir para perguntarmos a alguém. Eu a encostar e a pedir-lhe o mapa. E o mapa já tinha voltado ao seu habitat natural, ou seja, o porta-luvas.
As viagens continuaram e sempre que eu esboçava o mínimo sinal de precisar de indicações, era vê-la a transpirar! Não adiantava. Era discussão na certa e já sofríamos por antecipação.
Finalmente, esta história tem um final feliz, e não é pelo facto de já ter GPS no carro. É que a certa altura aconselharam-me o livro "Porque é que os homens nunca ouvem nada e as mulheres não sabem ler os mapas de estrada". Comprei o livro. Li-o como se tivesse descoberto a razão de todas as nossas discussões (e não só as dos mapas). Ela leu-o. E ficámos a perceber muito melhor a razão de sermos assim, diferentes: ela sem conseguir ler mapas de estrada, eu sem conseguir fazer duas coisas ao mesmo tempo, entre tantas outras.
Daí em diante, sempre que me sentia minimamente perdido na estrada, virava-me para ela e dizia:
- Tiras o mapa, enquanto encosto o carro?
Ela sorria e sentia-se aliviada. Era eu que iria olhar para aquele puzzle, aquele emaranhado de linhas e cores e números e bolinhas. Olhar para aquilo não seria mais a função dela.
O mapa, esse, já não é preciso e as nossas viagens, essas, já não estão sujeitas a discussões.
Fartei-me de rir a escrever este post e a imaginar as situações. Realmente, a esta distância as coisas têm muito mais piada.
*Se pensarem em comprar o livro, permitam-me que sugira que o façam usando os links de afiliação que tenho visto por alguma dessa blogosfera. Escolham um blogue que gostem, e comprem por aí.
O título do livro não tinha um ponto de interrogação no fim?
ResponderEliminarNão. É mesmo assim.
EliminarLOL gostei de ler este bocadinho... é a tal coisa, nem um nem outro estavam a reagir como deve ser... mas ainda bem que arranjaram uma maneira de evitar que a coisa acontecesse...
ResponderEliminarA culpa nem era bem nossa. Apenas não percebíamos o porquê de sermos assim.
EliminarLOL
ResponderEliminarA tua mulher consegue ser pior do que eu. :p
Aqui entre nós, eu acho que de vez em quando ela ainda tem pesadelos comigo a pedir-lhe para tirar o mapa e dar-me indicações.
EliminarA sério que compraste um livro sobre mapas?!!
ResponderEliminarO livro é este.
EliminarE aqui podes ver alguns comentários sobre o livro.
Tem tudo a ver com diferenças entre homens e mulheres e muito pouco a ver com mapas de estradas.
Este post é tão subtilmente machista que nem sei o que te diga...
ResponderEliminarE viva o GPS!
Pronto, é só isto. ;p
Viva o GPS. O meu tem uma mulher a falar, só por causa das coisas.
EliminarPor muito que me custe admitir é verdade... O meu sentido de orientação (não quero generalizar a todas as mulheres!) é NULO! Nunca sei para que lado estou voltada... Bem precisava de um GPS!
ResponderEliminarO livro é capaz de ter mais casos em que o homem fica a perder. Por isso, perdes no sentido de orientação, mas ganhas em muitas outras coisas. ;-)
EliminarEntão, de acordo com o livro, nós mulheres somos boas em quê? Agora interessam as nossas qualidades ;)
ResponderEliminarpippacoco.blogspot.pt
São boas a comunicar, por exemplo. Talvez por isso, haja muitos mais blogues femininos do que masculinos.
EliminarSão mais perspicazes. Entendem facilmente a linguagem não verbal.
São multitasking.
E tantas outras coisas que agora não me recordo :P