Blogue: E a outra metade também
Post original: Ensaio
Autora: Tânia
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Ensaio
Desde sempre existiu a necessidade de se dividir o Tempo em unidades distintas, de modo a ordenar sequências de eventos. O modo como os nossos antepassados concretizaram essa repartição é para nós um dado adquirido, mas será infalível?
Sabemos que um dia "foi feito" para ter vinte e quatro horas, cada hora teria sessenta minutos e assim por diante... Mas se isto fosse mesmo verdade, nunca nos queixaríamos do facto de a) o dia não ter sido longo o suficiente para cumprir todas as tarefas, ou b) o dia ter sido tão entediante/desesperante que parecia não ter fim.
Proponho que se oficialize uma forma de classificação do Tempo paralela à tradicional: o Tempo segundo os apaixonados e o Tempo segundo os não-apaixonados. É uma concepção muito simples e caso se pertença ao primeiro grupo é ainda mais fácil entender o conceito. (E para que não haja mal-entendidos é importante notar que se pode estar apaixonado de diferentes maneiras e feitios).
Quem já deu por si a desejar mais uns minutos perto de quem ama, a pensar que a manhã chegou muito cedo e não apetece acordar, a desiludir-se porque "oh-já-são-estas-horas?-a- conversa-estava-tão-boa-que-o- tempo-passou-a-correr"? Eu já, vezes sem conta. Este é o Tempo daqueles que são enamorados pela vida. A estes o Tempo nunca chega para mais um beijo, um sonho ou uma gargalhada.
Mas o que será que se sucede com os não-apaixonados? Para estas pessoas o Tempo decorre lentamente, parece até que não passa. É costume existirem queixas, suspiros e até refilam... mas nada acelera o seu Tempo. É natural, todo o Tempo parece demasiado quando se está "des-apaixonado". Se não gostamos de uma tarefa (ou de alguém) o Tempo dedicado a ela é sempre interminável. Mas cuidado. Este Tempo também surge quando no fim da linha está o nosso propósito: uma viagem de onze quilómetros torna-se infindável se vamos ter com o namorado; o relógio pára de funcionar quando a aula é aborrecida e o Verão se começa a insinuar...
Será então que apaixonados e não-apaixonados partilham unidades de Tempo? Creio que não. O que acontece é que faltar a uma aula porque a Primavera em breve termina e os dias estão mais quentes é estar-se "des-apaixonado" pela dormência e o desejo de se estar com a pessoa amada é estar-se "des-apaixonado" pela saudade.
Apaixonados e não-apaixonados não partilham o Tempo, não; apaixonados e não-apaixonados são um só.
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Este post surge na sequência do passatempo So you think you can blog. Pretende-se dar espaço a blogues com poucos seguidores de darem a conhecer os seus dotes. Críticas tipo Ídolos são aceites. Críticas construtivas são bem-vindas. Visitas e novos seguidores ao blogue mencionado são super-bem-vindos.
É folha amarela. 'Tou 'ta seguir.
ResponderEliminarObrigada pela tua opinião e voto de confiança, Rafael :) com certeza irei retribuir! *
EliminarSe me é permitida a opinião, cá vai:
ResponderEliminarTânia, gostei do teu texto e da forma como apresentaste a tua visão muito própria sobre a noção do tempo. Não concordo inteiramente com a tua opinião - sobretudo a que apresentas no final do texto - mas também não é necessário que ela seja consensual - eventualmente, até se torna mais interessante se não o for, porque dá azo a uma maior discussão (saudável).
No geral, gostei da tua escrita e da forma como expuseste a tua visão e leitura muito próprias sobre o tema que escolheste :)
Joana, agradeço muito a tua opinião sincera :) E concordo inteiramente contigo: o objectivo não é abanar a cabeça afirmativamente a tudo o que se lê... E a discórdia é bem bonita, quando vem assim como o teu comentário :p beijinho*
EliminarObrigada, Eduardo, pela tua generosidade em divulgar blogues e textos alheios :) É bom ter opiniões de um texto que escrevi quando ainda não tinha um único seguidor. Novamente, o objectivo não é obter a concordância de ninguém... Mas é bom saber que algumas pessoas gostaram do que leram e mesmo que não o façam, tudo bem - 'ciberamigos' na mesma :p
ResponderEliminarObrigado eu, Tânia.
EliminarAceito que tenha uma pinga (pequenina) de generosidade.
Mas também tem uma pinga de egoísmo, já que se não fizesse este passatempo, dificilmente teria visto este teu post, como outros. E valeu a pena, identifiquei-me com ele.
Ainda bem :) Sei que há muita gente a partilhar esta visão do tempo... apaixonados ou não, claro :P
EliminarBeijinho*
Concordo e não concordo. Para mim o tempo não é uma constante e a forma como se optou por ter uma norma mundial de gestão do tempo é discutível mas aceitável. Apesar de não ser grande fã de imposições e regras sei aceitar que sem elas isto seria um descalabro e ninguém se ia entender. Voltando ao tema, partilho mais da visão do Einstein sobre o tempo e a maneira como se move.
ResponderEliminarQuando estamos "distraidos" passa a voar, quando olhamos para ele vemo-lo parado. É uma questão de interpretação e percepção.
Mas é a velha questão da árvore no meio da floresta. Se não houver ninguém por perto, faz barulho ao cair?
Para mim o tempo também não é uma constante e é isso que defendo neste texto ;) Exacto, penso que a noção de tempo é das coisas mais subjectivas que pode existir, ainda que os relógios nos façam pensar o oposto... :)
EliminarObrigada pela tua opinião, gosto mesmo de saber outros pontos de vista.
Beijinho*
Não concordo com a última parte, mas também não é preciso. Gostei muito do post.
ResponderEliminarE eu agradeço o comentário honesto :)
EliminarBeijinho*