19/03/2013

Poupanças

Desde pequeno que oiço o meu pai a dizer que as coisas devem ser feitas sempre com conta, peso e medida. Conta, peso e medida. Conta, peso e medida. Sim, assim repetido. E que se temos 10, não devemos gastar 15, mas só 5. Que se queremos comprar algo, não o devemos fazer às prestações. Que devemos esperar pela altura em que já temos, para então, nessa altura, comprar. Que, mesmo que ganhemos muito pouco, temos obrigação de poupar, nem que seja um Euro.

Quando fui estudar para Coimbra, ia com esta lição bem estudada e com o dinheiro todo contadinho. Como se não bastasse, todas as minhas despesas, todas mesmo, tinham de ficar escritas num caderno com o respetivo talão. Ora 250$00 do almoço, 400$00 de fotocópias, 2.000$00 de supermercado. Não tinha como gastar em coisas de que não precisasse. Até porque tinha o exemplo dos meus irmãos mais velhos e já sabia que o meu pai não deixava passar nada. E ele lia, ah pois lia, os cadernos da "contabilidade", chamemos-lhe assim. E chamava à atenção. Coisas simples como "Porque é que compraste 4 garrafas de água de litro e meio, quando fica mais barato comprar um garrafão de 5 litros?".

Quando comecei a viver com a Raquel, vinha formatado com esta mania das poupanças e foi um choque para ela, mas os hábitos dela também foram um choque para mim. Para ela, eu era forreta. Para mim, ela era gastadora. E a pouco e pouco fomos cedendo aqui e ali para a convivência ser mais tranquila. E pronto, agora considero que somos os dois poupados.

Mas de vez em quando ainda me chateio quando vejo uma luz ligada sem ser necessária, quando vejo restos de comida no prato dela, ou quando ela deixa a televisão ligada desnecessariamente. Mas ela também se chateia quando eu desligo a televisão e ela foi só ali um minuto à cozinha ver da comida. Nessas alturas, apercebo-me que ela tem razão e penso: "A culpa é do meu pai!"

16 comentários:

  1. Faço um controlo de despesas muito parecido com o teu embora não me negue a gastar dinheiro "desnecessariamente". Não uso o caderninho mas sim uma aplicação para o telemóvel onde registo todos os gastos que tenho (nem que sejam apenas cêntimos).
    No final do mês vejo sempre onde andei a esbanjar dinheiro desnecessariamente e tento, a partir daí, controlar os gastos nesse sentido. O que é certo é que, de um ano para o outro, prevejo uma poupança de 700 e muitos euros :)

    Não creio que o que descreves seja um defeito. É certo que desligar a televisão só porque ninguém está a ver pode ser um bocadinho extremista (às vezes pode estar ligada só para fazer ambiente em casa) mas não vem mal ao mundo por aí ;)

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    1. Pois, agora já não uso caderno. Também tentei que puséssemos as despesas todas numa spreadsheet no Google Docs, mas depois eram mais as chatices para preencher aquilo do que os benefícios que se tiravam dali. Eu tb não acho que seja defeito, até porque ver muita tv faz mal à saúde ;)

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  2. Txxi, estou a ler isto e a sentir-me a pior pessoa de sempre. Não sou poupada. Mas espero ser um dia. E hei-de vir aqui ler este post e o testemunho do W para me inspirar. ;)

    pippacoco.blogspot.pt

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    1. Ela sentiu-se assim durante muito tempo e eu sentia-me um grande forreta. Também não é muito agradável :P

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  3. O meu pai sempre me ensinou assim. No que toca a dinheiro deve fazer-se tudo muito bem pensado. Já a minha mãe nem por isso. Ao meu pai chamam-lhe o tio patinhas e a minha dizem que estou a revelar-me seguidora acérrima de seus ensinamentos. À minha mãe chamam-lhe louca, pois não pensa nas consequências de ser gastadora! Em tempos, quando ainda estava na faculdade, e comecei a ganhar mesada tentei ter um exel e fazer conta de todos os gastos, mas depois fui-me deixando disso, infelizmente.

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    1. Como disse acima, tb tentei que fôssemos pondo as despesas todas num excel, mas foi mesmo só uma tentativa. E a minha mãe tb não é de poupar. Mas se chamam tio patinhas ao teu pai, é bom sinal ;)

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  4. Eu também fui ensinada a ser poupada desde muito nova e acho que é uma virtude. Claro que há coisas com que perco a cabeça de vez em quando. Mas posso fazer isso graças ao dinheiro que poupei de outras coisas. Eu às vezes também de esqueço de aparelhos ligados mas é mesmo porque sou despistada.

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    1. As poupanças também servem para isso. Servem para emergências, mas também servem para aquelas coisas que nós (e não necessariamente os outros) damos valor.

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  5. Meios termos, sensatez e cedência - é a receita das boas relações :) Acho que foste muito bem formatado para a vida adulta a dois. :)

    Eu também sou muito poupada. Felizmente sempre fui e sou (somos) adeptos e felizes com a teoria do gastar 5 e não 15, quando se tem 10, o que é uma boa base para a vida, parece-me.

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    1. Concordo, mas as cedências também foram sendo conquistadas pelos dois. E aquilo que não estava bem formatado, foi-se formatando... como os discos :P

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  6. Bem, nos dias que correm acho que se pode dizer que o teu pai te incutiu muito bons hábitos ;)

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    1. Sim, principalmente nos dias que correm, dá bastante jeito.

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  7. Eu sou poupada mas nunca tive que registar nada. Acho um pouco demais e, principalmente tendo que apresentar aos pais seja em que idade for, acho uma falta de privacidade, liberdade e confiança. Era tão bom fugir para a feira popular com o dinheiro que sobrou do lanche, ou comprar aquele saco de gomas às escondidas, ou na idade que referes não ter que descriminar o gasto em preservativos eheheh O facto de escrever quaisquer pequenos gastos impulsivos que forem deve trazer um sentimento de culpa muito maior por estarem ali no papel a relembrar-nos e isso não pode ser saudável. Às vezes é bom saborear aquilo por que tanto nos esforçamos. Há uma diferença entre o valor das coisas e o seu preço. Quase me fez lembrar o pai de um conhecido que aquando do seu casamento lhe apresentou todos os gastos que teve com ele ao longo da sua vida...

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    1. Eu também podia fazer as escapadelas que quisesse, mas não com o dinheiro dele. Tinha o dinheiro que as minhas tias me davam nos aniversários e era com desse dinheiro que tirava para os matraquilhos, jantares de curso, discoteca, etc, etc. Essa do pai do teu amigo é muito mau, para não dizer pior.

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  8. Eu também sou bastante mais poupada que o meu homem, e a culpa é da minha avó! Ela é estilo o teu pai;)

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    1. Os nossos avós quase que não tinham alternativa. Tinham mesmo que ser poupados.

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