Certo dia em que ela estava doente, pediu-me para ir buscar um medicamento que estava a tomar. Bom samaritano que sou, prontifiquei-me logo. Fui à gaveta onde costumam estar todos os medicamentos e pus-me a procurar. E procurei, e procurei... e nada! Nada de o encontrar. Aquilo estava tudo ao monte, com os ditos medicamentos fora das caixas, as bulas espalhadas, as caixas espalmadas, enfim. Não havia forma de alguém conseguir encontrar o que quer que fosse. Desisti. Ela levantou-se, dirigiu-se à gaveta, e como que por magia, o medicamento apareceu. A sério, pareceu magia.
- Onde estava? - perguntei eu.
- Onde estava? Só podes estar a brincar. Estava mesmo aqui à frente.
Bolas... Que derrota. Eu tinha procurado. A sério que tinha. Fiquei frustrado, mas as coisas não iam ficar assim. Tinha de haver forma de não voltar a acontecer. E tive uma ideia espetacular. Senão, reparem. Decidi organizar a gaveta por ordem alfabética, ou seja, medicamentos de A a Z, de Aspirina a Zovirax, passando por Ben-u-ron, Centrum, Diarresec, Estomanol, Flatol, Gino-Canesten, you name it. Obviamente que as caixas ficavam com o nome virado para cima, para ser mais fácil encontrar. Da próxima vez ia ser canja. E ela, claro, ia ficar orgulhosa das minhas arrumações. Arrumações que nem foram a pedido. Tinham sido iniciativa minha. Uma raridade.
E não demorou muito a ser necessário. Na vez seguinte em que ela precisou de um medicamento, pus o meu algoritmo de pesquisa rápida a funcionar e trumba-las, "aqui está ele". 1 resultado encontrado em 0,05 segundos. O Google, se visse, ia ficar de boca aberta e com inveja de tamanha rapidez.
Esta organização perdurou até ao dia em que ela se dirigiu à gaveta dos medicamentos. Eu, todo orgulhoso do trabalho feito, perguntei-lhe:
- Então? Que tal achas que está a gaveta?
- Que confusão. Isto assim não dá jeito nenhum. Nada está à mão. Não me consigo organizar com isto assim.
Como? Então mas... "isto assim" está organizado!
Qual quê? As coisas como estavam, para ela, eram impossíveis de resultar. Ela queria os medicamentos que mais usava mais à mão. Os que não se usavam, ficavam lá no fundo da gaveta. Mais uma derrota. Que desilusão que aquilo foi para mim.
Escusado será dizer que a gaveta voltou ao estado inicial em pouco tempo, ou seja, aquilo está novamente tudo ao monte, novamente com os ditos medicamentos fora das caixas, as bulas espalhadas, as caixas espalmadas, enfim.
E agora, sempre que ela está doente e me pede um medicamento, pego na gaveta e levo-lha.
É mais rápido e ninguém se chateia.
O método de arrumação que arranjaste foi 5* !
ResponderEliminarMas devia ter ido mais além tal como aqui em casa: o meu avô faz a lista de tudo o que existe cá e onde está. E está tudo em dossiers!
Vou-me lembrar de um dia arrumar os medicamentes assim! Ty!
Bem, pôr tudo em dossiês já demasiado burocrático para mim. Tens de dizer ao teu avô para usar Google Docs. Porque assim, os arquivos nunca se perdem. ;)
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