Nos tempos áureos do IRC, era frequente passar umas horas valentes na converseta. Podia adoptar a postura passiva (don't get me wrong), que era a de ficar à espera que metessem conversa comigo, ou a postura mais ativa, a contrária, portanto.
Ora quando tinha a postura passiva, era raro quem metesse conversa comigo. Os homens não falavam comigo - e ainda bem, diga-se - e as mulheres também não davam o primeiro passo. A verdade é que o meu nickname não era muito chamativo - acaba em man - e sabia que tinha de fazer alguma coisa para contrariar a tendência.
Decidi então criar um nickname que não esclarecesse, à partida, se era masculino ou feminino e que pudesse, eventualmente, chamar um pouco mais a atenção das meninas. E adotei um nickname unisexo. Assim, começaram a ocorrer muitas mais conversas, mas era tudo homens. As mulheres continuavam silenciosas.
Como muitos homens iniciavam a conversa, decidi aproveitar as conversas a meu favor. Achei que poderia aprender alguma coisa se tentasse perceber a abordagem deles. Como faziam? O que falavam inicialmente que pudesse ser interessante para elas? E, efetivamente, deu para aprender algumas coisas, e desaprender outras.
Mas outros havia que começavam a conversa com: "m/f?"
A esses nem respondia. Bastava dizer que era "m" para saírem da conversa. Até que um dia em que estava sem ninguém a conversar e com bastante tempo livre, decidi travestir-me virtualmente, seja lá o que isso for.
Entrei com um nickname feminino e rapidamente apareceu a pergunta de sempre: "m/f?". Respondi "f" e a conversa foi rolando. Rapidamente percebi que estava a falar com um moço desesperado. E fui dizendo alguns lugares comuns, e com muitas mentiras pelo meio. Disse que era casada, mas que estava descontente e que precisava de mais acção na minha vida. Fingi-me interessado, ou neste caso, interessada.
A páginas tantas, fiquei sem tempo. Tinha de me despachar na conversa. Ele era do Norte. Combinei encontro no Norteshopping às 22h do próprio dia, mais concretamente junto ao bowling que, naquele tempo existia e eu sabia disso.
- Mas como te vou reconhecer?
- Levo uma saia vermelha. Vais perceber logo que sou eu.
- Ok.
O moço, a certa altura, já só respondia com "ok". Tinha-lhe saído a sorte grande.
- Quero discrição. Isto não é para se saber.
- Ok.
- Ah... e espero que não seja preciso dizer...
- O quê?
- Leva protecção.
- Ok.
A conversa terminou e obviamente não sei se ele se deslocou ao shopping. Se não foi, é porque tinha neurónios suficientes para não se deixar afogar pelo desespero. Se foi, as minhas desculpas a todas as mulheres que àquela hora e naquele local tinham uma saia vermelha vestida.
Ahahaha
ResponderEliminarQue mauzinho. :p
Lembro-me desses tempos do IRC. O início da conversa era sempre o mesmo:
- Nome
- idd
- ddtc (acho que era assim)
Evitava ao máximo entrar em canais da minha terra senão a pergunta seguinte era logo "queres encontrar-te cmg?"
E eu não estava para isso.
Havia quem fizesse em inglês: asl? (age sex location). Era mais rápido e sofisticado, mas o desespero era o mesmo.
EliminarPara mim, IRC é um imposto, por isso até ia pegar no Código do IRC para ler este post. Ainda bem que era outro tema.
ResponderEliminarJá percebi a história do "Homem do Bowling", então. Sabes quem é, não sabes? Em Lisboa, havia o "Homem do Adeus", o Porto tem este (e o Emplastro). É um homem que se senta todos os dias, às 22h, no bowling do Norteshopping. Nunca ninguém sabia o porquê. Está finalmente esclarecido... ;)
pippacoco.blogspot.pt
Há quem diga mIRC, mas o mIRC era o programa mais popular de IRC.
EliminarEu pensava que já nem havia lá bowling. Afinal, ainda há.
Pronto, agora só tem de aparecer alguém com uma saia vermelha. Vai tu que eu não tenho nenhuma que me sirva.
Eu era muito nova nos tempos áureos do IRC por isso não cheguei a usar.
ResponderEliminarMas não tiveste uma pontinha de vontade sequer de ir espreitar quem era? É que a menos que tivesses vestido uma saia vermelha não corrias perigo de ser descoberto :D E sim, coitadas das senhoras que lá estavam a essa hora com saia vermelha.
Eu vivia em Coimbra. Não tive curiosidade nenhuma :) O mais certo era olhar para toda a gente e toda a gente me parecer o rapaz.
EliminarO mal de ter uma empresa é que, ao ler o título do teu post, só me lembrei do imposto que tenho de pagar... :/
ResponderEliminarSe tens imposto a pagar, é bom sinal. É sinal que tens lucro ;)
EliminarGosto da visão positiva das coisas, sim senhor :)
EliminarMas permite-me reformular o meu comentário: "(...)do imposto que terei, num futuro talvez mais longínquo do que deveria ser, de pagar..." :/
Vou torcer para que o comeces a pagar o quanto antes.
Eliminar;)
EliminarHahaha, eu teria ido ver se ele aparecia. Deve ter sido engraçado :p
ResponderEliminarO desespero poderia ter sido tal que lhe turvasse a visão e lhe fizesse ver uma saia vermelha em tudo o que mexia. O melhor era não arriscar ;)
EliminarE agora que penso nisso, tu foste mesmo mauzinho... coitadinhas das mulheres de saia vermelha naquele dia, com um tarado atrás delas... :D
ResponderEliminarImagina se dissesse que estava de calças de ganga...
Eliminare agora eu faço uma pergunta que nada tem a haver... já nao há bowling no norteshopping? ando mm out! o marshopping deixou-me out! ahaha
ResponderEliminarEu pensava que não havia, mas pelo site do Norteshopping, parece que há. Ora vê a localização do bowling.
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