O meu irmão mais novo

O meu irmão mais novo é o mais alto e mais bonito. Ou antes, era o mais bonito. Agora que tem uma barba que faz lembrar o Raminhos, ficou a ser só o segundo mais feio.

----Esta parte contém nojo.
Um dia, ainda ele usava fraldas, andava pela sala com uma colher. Cheirou-me mal e avisei a minha mãe. Ora as fraldas não devia estar bem apertadas e caiu cocó. Ele com a colher levou o cóco onde? À boca.
----Fim de parte que contém nojo.

Já um pouco mais crescido, talvez com uns 4 ou 5 anos, e com a mania que já era adulto, decidiu trancar-se na casa de banho. A fechadura encravou e ele ficou lá fechado algum tempo. A certa altura escorrega e ouve-se um barulho. Do lado de cá, perguntámos se ele estava bem e ele sem responder. Passado mais um bocado diz ele: "Pensavam que eu tinha morrido?".

Quando eu tinha 10 ou 11 anos e recebi as minhas primeiras Ardidas Requeimadas (era assim que chamávamos às Adidas Registadas), senti-me mesmo muito feliz. Ele, com essa idade, recusava toda e qualquer roupa de marca para não o chamarem de beto.

Andou anos e anos a pedir um Barco Pirata da Playmobil. Quando as minhas tias se juntaram para o comprar, provavelmente já ele era velho demais para aquele brinquedo e, depois de o montar, nunca mais brincou com aquilo.

A minha brincadeira favorita com ele, era assustá-lo. E chateá-lo. E bater-lhe também. Não sei se estará relacionado, mas ele tem medo de andar de avião. Ao ponto de nunca ter andado. Como compensação por fazeres 29 anos, ofereço-te uma viagem Porto-Faro e ofereço-me para ir também. Se a viagem correr bem, fazes de meu motorista no Algarve. Se a viagem correr mal e o avião avariar, descemos que a oficina é cá em baixo.

Ricardo, és o meu irmão mais novo favorito. Vê se fazes essa barba.